Sempre que eu viajo para algum lugar procuro aqueles restaurantes onde os moradores locais se abastecem. Fugir da rota turística quando se trata de gastronomia é o melhor conselho que eu posso te dar. Além dos pratos serem muito mais em conta, o sabor é genuíno. E eu sou da opinião que a gente tem que provar tudo. Pode não gostar, mas tem que provar.
A questão é: como achar esses lugares? Há duas opções: ou tu te atiras em pesquisas na internet, ou então segue a sugestão dada pelo meu amigo portuga, dono do Tuim (post sobre clássicos de Porto Alegre) – entra em alguma loja de artigos NÃO TURÍSTICOS e pergunta onde o cidadão vai quando quer comer bem e pagar pouco. Não tem erro.
Apesar disso, a minha história envolve uma amiga que fez o intermédio com os locais. Quando fomos a Madrid, em um dos passeios, conhecemos uma carioca muito simpática – a Paula. Ela, por sua vez, conhecia um madrileño que a tinha levado em um restaurante muito legal. E é aí que a experiência se inicia.
Um pouco sobre histórias e lendas
Com a indicação da Paula, fomos até o “La Musa”, na calle Manuela Malasaña, 18. O restaurante é especializado em tapas nada tradicionais. O lugar preza a criatividade nos pratos, combinando um atendimento acolhedor a um ambiente bem descontraído. Entendi porque os locais são fãs desse lugar.
A Paula nos contou que o tal madrileño que levou ela no restaurante disse que o nome do bairro Malasaña é uma homenagem à Manuela Malasaña, que também dá nome a rua. Eu me apaixonei pela história e isso contribuiu para a experiência ser ainda mais interessante.
Há muitas versões para a lenda da Malasaña. Certo é que ela foi uma mulher guerreira, que morreu lutando bravamente contra o domínio francês. Parece que ela combatia os soldados franceses jogando azeite quente pela janela, mirando nos inimigos. A mulher se tornou lenda e “musa” do bairro, dando nome ao restaurante.
As tapas do “La Musa”
Bueno, vamos ao que interessa. O menu do “La Musa” tem muitas opções de tapas, mas fomos na dica que o madrileño deu e pedimos a degustación de tapas, por justos 30 euritos. A degustação é recomendada para duas pessoas, mas a Paula tinha nos dito que é tão bem servido que poderíamos comer os três – eu, meu pai e minha mãe.
Optamos por experimentar, e pedimos umas croquetas de jamón para dar aquela forradinha no estômago. A medida foi certeira.
Trouxeram nossas croquetas e uma entradinha com pães crocantes, uma pastinha de beterraba e as azeitonas mais verdinhas e deliciosas que já comi na vida. Tudo isso acompanhado de um chope geladinho. Ficamos animados com o começo da experiência.
Em seguida, as primeiras tapas:
– ensalada de codorniz: saladinha de folhas, cebola roxa, castanhas e codorna desfiada
– hummus de berenjena: húmus de berinjela, sour cream e azeite de oliva para comer com nachos. Muito saboroso.
– salmón curado: salmão levemente defumado, guacamole, sour cream e crocante – o favorito da primeira rodada.
– tataki de solomillo: tataki de lombo com damascos e farofinha. Adoramos!
Depois, a segunda rodada – ainda melhor!
– bomba de patata: era tipo um croquete de batata recheado com carne moída, aioli delicioso em cima, e toque de molho entre um ketchup e um barbecue. Em baixo ainda tinha um molhinho que parecia pesto de manjericão. A bomba de patata foi a preferida por unanimidade de votos na nossa pequena mesa.
– croqueta 2.0: essa é uma croqueta desconstruída. Ela vinha no potinho de vidro: jamón picadinho, molho e crocantes em cima. Apesar de eu preferir a croqueta tradicional, a experiência é interessante.
– pisto de maribel: um ratatouille diferente, com ovo de codorna frito em cima e molho vermelho.
– carrilleras con setas: carne de bochecha – só descobri depois o real significado de carrilleras, mas comeria de novo – com cogumelos levemente adocicados. Tudo isso gratinado numa panelinha fofa. Uma delícia!
A idéia de ir provando e compartilhando todos esses pratos criativos é muito boa. Foi uma experiência sensacional, mas ainda tinha a degustacíon de postres que estava por vir. Fechando com chave de ouro a nossa visita, fomos surpreendidos com um lindo conjuntinho de três sobremesas: cheesecake de framboesa, creme de manga com morangos e brownie com caramelo. Muito amor pela Musa Malasaña.

Realmente, os locais sabem onde comer bem na sua cidade. O La Musa é um grupo de cinco restaurantes, cada um com a sua peculiaridade. A musa Malasaña é ainda mais especial por conta da lenda que carrega no nome e pela criatividade da cozinha que oferece. Uma das experiências mais legais da viagem!